quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sérgio Pachá lê, relê e venera o cearense José Albano (1882-1923)


José Albano


Poesia: Soneto Prece
Ensaio, crítica, resenha & comentário:

Fortuna crítica:
Poeta singular, no dizer de Manuel Bandeira, "porque inteiramente fora dos quadros da poesia brasileira", José de Abreu Albano nasceu em Fortaleza no dia 12 de abril de 1882 e estudou no Seminário da cidade entre 1892 e 1893. Mas logo o pai o mandou estudar na Europa, onde requentou os melhores colégios, na Inglaterra (Stonyhurst College), na Áustria (Colégio Stella Matutina) e na França (Colégio dos Irmãos da Doutrina Cristã).

Dessa formação algo "eclesiástica" duas ilações podem ser tomadas: uma, a linhagem de sua poesia mística; a outra, a sua predileção pelo passado, pois achava que a perfeição artística estava lá. Não lia os escritores de seu tempo e a sua obra, de modo geral, é de gosto clássico, arcaizante, camoniana. Assim, fugia ao esquema, algo repetitivo do omantismo/Parnasianismo/Simbolismo, fuga para o passado, pois "propositadamente ele não quis ultrapassar a Renascença", como diz José Sombra.

Bem jovem ainda, José Albano está de volta à terra natal, quando começa a publicar seus poemas no jornal A República e estuda no Liceu do Ceará. Em 1902 vai para o Rio de Janeiro, com a intenção de estudar Direito, mas interrompe o curso e volta ao Ceará, na condição de professor de latim do Liceu. Europa, Ceará e Rio de janeiro marcarão as várias etapas da vida do poeta.
Depois de trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, José Albano, já casado, vai para o consulado brasileiro em Londres. Mas abandona a carreira pública para viajar pelo mundo, enquanto continua a produzir seus poemas de feição clássica. Poliglota, escreve em francês, inglês e alemão, mas, como lembra Manuel Bandeira, "tão versado em idiomas estrangeiros, prezava como ninguém a pureza do vernáculo".

Inquieto, "um doido com intervalos de gênio", como disse Gondin da Fonseca, José Albano acaba abalado mentalmente, mas se recupera após três anos de tratamento no Brasil e volta à Europa. Alguns de seus poemas são enfeixados, pelo próprio autor, em "plaquetes requintadas", dificilmente encontráveis hoje em alguma biblioteca.

Deve-se a Manuel Bandeira e a Braga Montenegro o estudo e a divulgação de suas Rimas. Manuel Bandeira, como inúmeros críticos da obra de José Albano, ficou indeciso quanto à classificação estética do poeta, naquele começo do século com escolas que se entrecruzavam e influenciavam lealmente os poetas.

Como o Parnasianismo tinha uma feição algo clássica, tal constatação levou alguns estudiosos a incluírem José Albano nesta Escola. Manuel Bandeira, depois de julgá-lo fora "dos quadros da poesia brasileira", levanta a questão: "Todavia, alguma coisa em sua poesia soa à corrente poética do tempo em que ele viveu. Esse tempo era o simbolismo. Pela espiritualidade de sua inspiração, pela musicalidade de sua forma, pela sensibilidade por assim dizer outonal de seus versos, é dentro do quadro simbolista que melhor cabe a sua singular figura.
José Albano morreu na França, em Montauban, às margens do rio Tarn, no dia 11 de julho de 1923, e foi sepultado no pequeno cemitério da cidade.

José Albano

SonetoPoeta fui e do áspero destinoSenti bem cedo a mão pesada e dura.Conheci mais tristeza que venturaE sempre andei errante e peregrino.Vivi sujeito ao doce desatinoQue tanto engana, mas. tão pouco dura;E ainda choro o rigor da sorte escura,Se nas dores passadas imagino.Porém, como me agora vejo isentoDos sonhos que sonhava noite e dia,E só com saudades me atormento;Entendo que não tive outra alegriaNem nunca outro qualquer contentamentoSenão de ter cantado o que sofria.


José Albano

Prece Bom Jesus, amador das almas puras/Bom Jesus, amador das almas mansas,/De ti vêm as serenas esperanças,De ti vêm as angélicas doçuras. /
Em toda parte vejo que procuras/ O pecador ingrato e não descansas,/Para lhe dar as bem-aventurançasQue os espíritos gozam nas alturas./
A mim, pois, que de mágoa desatino/ E, noite e dia, em lágrimas me banho,/Vem abrandar o meu cruel destino, /
E terminado este degredo estranho,/Tem compaixão de mim, pastor divino,/Que não falte uma ovelha ao teu rebanho!

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